domingo, 30 de agosto de 2009

Funeral

Eu estava ali imóvel sentindo-me completamente impotente. Ela andava pelo quarto vestindo uns jeans que revelavam seus quadris estreitos e suas pernas finas e, naquele momento, estava parada na frente do espelho escondendo a sua pele intocada com blush e batom. Desfilava com um par de sandálias cujos saltos disfarçavam a sua baixa estatura e as longas unhas pintadas de vermelho seguravam uma caneta que imitava um cigarro. Eu queria chorar, gritar, a fazer acordar desse pesadelo que se revestia em sonho, porém eu era incapaz. Ela impiedosamente me sepultou no fundo de um armário e eu sofria. Sofria não pela minha curta existência, mas porque sabia que a infância que ela precocemente enterrava não poderia nunca mais voltar à vida.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A Ex

Por mais diferentes que sejam as pessoas, a verdade é que os relacionamentos se repetem. Quem nunca se pegou comparando o(a) atual com o(a) ex? Ou ainda,quem nunca viu que as pessoas cometem erros parecidos? Homens e mulheres têm comportamentos padrão. Seja isso causado por fatores culturais ou pelo instinto natural de cada sexo, o que importa é que homens são insensíveis e que mulheres se preocupam e morrem de raiva sim se eles não percebem o novo corte de cabelo.
Eu como mulher, posso manifestar um pouco das nossas peculiaridades não tão peculiares. Um assunto sempre vai se repetir, vem namoro, vai namoro e é o triste fato de que o seu namorado tem uma (ou mais, aquele desgraçado) ex-namorada. Já ouvi depoimentos de amigas próximas, de outras nem tão próximas, já vi dentro da minha casa e a opinião é geral: a ex deve morrer. Claro, não desejamos sinceramente que ela morra, até porque a culpa seria muito grande. Queremos apenas que ela seja abduzida ou que ela fique bem gorda e feia. Pior que comparar o próprio namorado com o ex, é se comparar com a ex dele, mas isso é inevitável. E, enquanto o homem se preocupa se o teu ex era melhor na cama que ele, a mulher se preocupa se a biatch recebeu do dito cujo a mesma dedicação ou se ela usa o mesmo manequim.
O namorado vai sempre insistir que tu é mais bonita que ela, que ele te ama mais, que ela não significou nada e várias outras besteiras. Isso vai entrar por um ouvido e sair pelo outro, por mais que ele repita milhões de vezes, porque, convenhamos, nós queremos mesmo é vasculhar a vida que o namorado tinha antes de nos conhecer. Existem procedimentos para que isso seja feito da maneira mais convencional e, por isso, menos suspeita, uma vez que toda mulher já fez o absurdo, talvez movida pelo natural instinto de competição ou pelo fantasma da ex materializado numa forte onda de ciúme:
- Fuxicar na vida virtual da ex: seja sozinha suando frio ou rodeada de amigas, é natural fazer a busca pelo orkut da criatura. O objetivo é encontrar fotos que mostrem que ela é uma loser e que não desfruta de nenhum dote físico. Assim, tu pode pensar que ela foi apenas um erro que o teu namorado cometeu.
- Fuxicar nas coisas do namorado: pode ser no computador ou na gaveta de meias. O objetivo aqui é encontrar cartas, fotos, presentes, qualquer coisa que esteja relacionado ao namoro dos dois. O melhor é não encontrar nada e ver que ele jogou tudo fora porque ocupava muito espaço.
Foi possível verificar que as táticas envolvem fuxicar muito, fazer das tripas coração para que provemos para nós mesmas que somos melhores, que a ex é apenas um percalço, uma pessoa que poderia não existir, é verdade, mas que existe para que saibamos que somos melhor que alguém. O problema, entretanto, é apelar para esses procedimentos desesperados e não alcançar o objetivo. Isso é de fato terrível porque ela pode ser manequim 36, ter belos olhos claros, ser super popular e super simpática. Esses últimos itens podem ser descobertos caso vocês vivam o infortúnio de conviver com as mesmas pessoas. Aí a vontade é de arrancar os cabelos e chorar.
Não querendo parecer vendedora de creme para celulite, só posso nesse momento dizer que sim, há uma luz no fim do túnel. Existem vezes que deixamos nossos instintos femininos vencerem a racionalidade, mas esse é o caso de repensar um pouco as nossas atitudes:
- Wear your heart on your sleeve: se é impossível não fazer a big deal out of it, é melhor falar francamente com o namorado: talvez sabendo mais sobre o que ele passou, vocês encontrem coisas em comum em seus passados que levem a bons motivos para estarem um com o outro e não com seus exes.
- Let it go and move on: não é saudável preocupar-se demais com a ex. Isso deixa de ser divertido no momento em que passa a interferir no cotidiano do casal. Take a deep breath e lembre-se: viva a vida de vocês e não a vida que eles tiveram juntos.
- Acreditar nele: why not? : parece loucura, mas ele pode estar sendo sincero! Pode ser que ela seja muito linda e sei lá que mais, mas ele te acha mais linda, mais interessante, mais tudo. Acredite: pode ser a mais pura verdade!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Consumação

- Ai, amor, assim nunca vai dar certo. Espera pra colocar que eu tô nervosa – disse a namorada, a qual não conseguia controlar o tremor que dominava seu corpo. Era um nervosismo previsível, porém inevitável – ela sabia que naquele momento se sentiria assim, sabia que ambos estavam esperando há muito tempo e, por isso, tudo deveria ser perfeito.
Naquele instante, então, o namorado recuou. Ele receava que a dúvida tivesse começado a rondar os pensamentos dela. Eles eram jovens, nunca tiveram o apoio da família, talvez aquela hesitação significasse que a moça tinha desistido. Entretanto, ele partilhava da mesma excitação e era impossível disfarçar, pois a preparação para aquela noite tinha sido longa: comida preparada por ele mesmo, o vinho que ela adorava, música agradável. Enfim, haviam ambos criado expectativas demais.
- Meu amor, tu sabe que não precisa fazer isso. Eu entendo se não for o momento, somos jovens, tu ainda mais que eu. Olha, eu vou até tirar ele da tua frente, não quero te ver assim, exasperada- disse o namorado engolindo seco porque, na verdade, ele queria muito que aquilo acontecesse.
- Não, eu juro que quero, amor. Não sei porque não consigo parar de tremer, é que ver ele aqui na minha frente me assusta um pouco, mas eu estou certa de que é isso que quero. Vem cá, vem. – ela falava agora com mais segurança e, como que para se recompor, tomou um gole graúdo de vinho.
Ela puxou o namorado pela mão para junto de si e acariciou seu rosto. Ele sentiu o gosto do vinho em sua boca e a beijou com ardor. Ela estava um pouco embriagada, mas ele a conhecia o suficiente para perceber que agora ela estava certa do que fazia. Ele então sentiu seu rosto molhado pelas lágrimas da namorada, ela sorriu e sussurrou que era impossível conter o choro. O abraço havia feito o tremor do corpo dela cessar e agora ela se sentia segura junto ao corpo do namorado. Ele, então, agora também com lágrimas nos olhos, pegou o anel de volta da embalagem e o colocou no dedo de sua futura esposa.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Nem tudo o que reluz é ouro

Se a vida não é palco, de nada serve atuar.
Tira o sorriso amarelo do rosto!
Eu te vejo por trás de todas essas coisas
Elas brilham e eu quase me deixo enganar.

Eu te descubro ator, personificas cobiça.
Entretanto, não te condeno os meios,
Nem invejo o poder do teu ter.
Precisas de todo esse ouro te revestir
Para que possas disfarçar a opacidade do teu ser.

domingo, 16 de agosto de 2009

Enjaulado

Quando me dei conta, estava diante de uma estranha paisagem artificial. Animais gigantes com garras tão grandes quanto haviam me tirado de casa de uma maneira tão rápida e violenta, que eu não tive tempo de pensar em nada. Eles me largaram naquela jaula que tentava imitar a minha casa e o que mais incomodava era ver os outros agindo como se tudo aquilo fosse muito natural. Alguns deles me disseram nunca ter visto outro lugar, outros pareciam desacreditados quanto à ideia de um dia poder sair dali. Em certo momento, resolvi olhar à minha volta e vi que aquele monstros que tinham me seqüestrado agora andavam ao meu redor e faziam barulhos estranhos, como quem tenta travar uma comunicação.
A raiva tomou conta de mim e tentei ir em direção àqueles que tinham tolhido brutalmente a minha liberdade. Não consegui. Algo que eu não podia ver me impedia de ir em frente e vi que realmente estava enjaulado. Jaula da pior espécie, pensei, visto que ela quer dar a impressão de uma liberdade fictícia. Enquanto os outros iam de um lado para o outro de uma forma mecânica, eu me desesperava junto às grades invisíveis. Não conseguia entender como eles poderiam estar tão conformados, tão automatizados por aquele ambiente artificial. Pensava que talvez pudesse haver uma maneira de sair dali, de voltar para casa, porém percebi que era impossível: era como se na verdade eu estivesse dentro de uma caixa transparente.
De repente, percebi que meus vizinhos estavam alvoroçados e então, uma chuva colorida começou. Eles saíram de seus falsos esconderijos ou pararam com o seu desfile vicioso para alcançar a chuva. Resolvi então averiguar o que estava acontecendo e foi então que tive plena consciência de onde estava me metendo. Ou melhor, de onde haviam me metido. Aquilo não era chuva, era comida. Aquilo a minha volta não eram grades e sim vidro. Foi aí que percebi que estava tudo perdido: teria que me alimentar daquela chuva colorida e teria que nadar para sempre em círculos.

sábado, 15 de agosto de 2009

No fundo do poço

No fundo do poço encontrei
Os cúmplices errados
Os medos mistificados
As mentiras bem-disfarçadas
E as mudanças evitadas.

No fundo do poço chorei
As palavras engolidas
As lágrimas contidas
Os planos frustrados
E os caminhos ignorados.

No fundo do poço me deparei
Com todos os infortúnios
Passados e presentes
Com todos os equívocos
Racionais ou inconscientes.

No fundo do poço eu não vi
Escadas nem passarelas
Nem atalhos ou elevadores.
Para sair de lá, as mãos são instrumentos
E a coragem, alimento.

Quando do fundo do poço eu finalmente saí
E para baixo olhei
Vi que um pouco de mim lá ficou
E muito dele em mim se fixou.

What is time to do?

I feel like time has stood still
Or has it just gone by so quickly?
Maybe it has flown past us
Without its usual outstanding ways.

Is it me who is asleep?
Perhaps time is playing tricks on me
For there is no yesterday I can remember
There is no tomorrow I can foresee.

Time is probably mocking me
Or is it trying to blind me?
For it is not making me face it
As it usually forces me to.

There is no doubt about it now
I have understood the powerlessness of time
It is actually you who make me feel
Like I have lost the track of time.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Until the masks fall off

People don’t ever change, they really don’t. When they have to improve themselves and they actually do it, you better know it won’t last long. And when you think they have suddenly become mean or they have gotten particularly self-centered, I’m sorry to say - and I may sound harsh – it’s very likely that they simply never were what you thought they were. It’s heartbreaking and frustrating when you get to see the masks falling off, but don’t blame yourself. There are people who have their masks so well attached to their faces that it’s impossible to see what’s behind them. The most important thing to keep in mind though is that these ugly faces will eventually be shown.

domingo, 9 de agosto de 2009

O amor é estranho

Pratos voavam e porta-retratos eram atirados pela janela. Essa era uma cena já conhecida pelos vizinhos do jovem casal que costumava ser assunto constante para os fofoqueiros de plantão do prédio onde viviam. As brigas eram recorrentes e aconteciam pelos mais variados motivos, certa vez tinha sido porque ele chegara em casa bêbado depois de uma reunião com amigos, outra vez tinha sido o celular que ela tinha esquecido desligado, etc. Entretanto, os desentendimentos sumiam tal qual surgiam, porque após pouco tempo, geralmente no mesmo dia, era possível ver o casal sair apaixonada e alegremente do prédio, sempre de mãos dadas e com cumplicidade no olhar.
O choro borrava a maquiagem da moça, a qual cerrava os punhos de tanta raiva. Era ela quem tentava arremessar pratos na cabeça do namorado enquanto ele se esquivava com habilidade – já era expert nesse esporte. Naquele momento, os porta-retratos já estavam no chão e ele sabia que a síndica faria questão de levar a multa pessoalmente dessa vez. Ele tentava acalmar a namorada, dizendo que o e-mail que ela tinha lido era antigo, que ele não se comunicava com a ex há muito tempo, mas seus esforços pareciam ineficazes e ele temia que eles alcançassem o próximo nível – o das roupas tiradas do guarda-roupa. Ela gritava e ele já nem entendia o que ela falava, ele concordava – sim, ele era um imbecil – e dizia que a amava mais que tudo, mas reiterava que nada tinha acontecido. Isso era o que mais a aborrecia: a teimosia. Se ele admitisse que estava errado, tudo ficaria bem. Mas não, ele nunca estava errado e a histérica era ela. Isso ela não admitia.
Passadas algumas horas – aquela briga estava sendo feia, pensavam os vizinhos – ela aceitou a explicação do namorado. Ele suspirou e agradeceu a Deus a santa paciência com a qual tinha sido presenteado, enquanto ela agradecia pela virtude da tolerância que tinha recebido. Eles sempre terminavam essas discussões, se é que se pode incluir violência à mobília e a objetos de decoração no conceito de discussão, sem realmente concordar com coisa alguma. Naquele caso, ela havia resolvido acreditar nele enquanto ele se considerava vitorioso por se fazer acreditar. Não, ela não achava que o e-mail era antigo e não, ele não achava que ela estava certa em dar atenção àquele assunto. Eles apenas decidiam que estava na hora de parar e assim o faziam. Eles, então, se abraçaram, ele enxugou as lágrimas do rosto dela e ela o beijou com fervor. Eles sabiam que a cena se repetiria, que os papéis se inverteriam ou que permaneceriam os mesmos. Isso era o que mantinha nele a vontade de sempre voltar para casa para encontrar a namorada, furiosa ou não, e que mantinha nela o desejo de o encontrar fielmente no final de cada dia, teimoso ou não. E assim eles saíram de casa de mãos dadas, se olhando apaixonadamente, para, mais uma vez, comprarem um conjunto de pratos.

sábado, 8 de agosto de 2009

Sensações

Percorro a tua face com as pontas dos dedos
tua pele de seda cintila no toque.
Teu cheiro suave me invade as narinas
e eu sinto perfume de fruta mordida.
Beijo teus lábios como quem saboreia
Uma ígnea guloseima que faz salivar.

Tuas mãos deslizam pelas minhas coxas
e doces faíscas eu vejo no ar.
Teu coração palpita bem junto do meu
ele se faz ritmar em acelerado escarlate.
Teu rosto molhado exala um salgado picante
que eu sinto dourado de olhos fechados.

Em translúcida satisfação, te procuro em vão
Te esfacelas em segundos em minhas mãos.
No quarto vazio, eu sinto o escuro
Se foi o rubi, ficou pálido azedume.
Depois de conhecer a tua onírica essência
Me deixas sozinha em amarga solidão.

Parasitas

Ao adentrarmos o Vale dos Macacos – por entre víboras, serpentes e aracnídeos de espécies e tamanhos diversos – percebi estarmos sendo notados por Pigmeus de olhos carmesins; eram quase rubis a chamejar nosso avanço por entre a densa mata. Mais adiante, ao tornar meu rosto coberto por suave gaze, tive os olhos chamuscados pelo cintilar do cristalino fungicida espalhado em nossa trilha.

© Maria Cristina Schleder de Borba

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

In Disguise

Não te enganes com a minha aparência comum
Não te confundas com os meus gostos banais
Ou com o meu vestir sem graça
Nada do que chega aos teus olhos é o que vai além dos meus.

Não te iludas com a minha rotina vulgar
Não te rias das minhas atitudes-clichê
Ou do meu jeito estereotípico
Toda a transparente obviedade funciona como um espelho teu.

Não te enganes com a minha provável superficialidade
Não te confundas com os meus hábitos triviais
Ou com as minhas posses ordinárias
O que fazes é passar os olhos ao invés de ler o que de fato é meu.

Se fores capaz de as minhas camadas desvendar
E a minha trivialidade desinflar,
Descobrirás que o que sou
Sai de um lugar muito comum para um muito peculiar

terça-feira, 4 de agosto de 2009

I will do it my way

I was once told there were two ways I could head to. “Follow this one”, they said while pointing towards a well paved path. It did look rather interesting, for it had flashing signs and led to beautiful buildings. “It indeed seems to be a very nice way to walk through”, I thought. People with smiling faces called me and said everything there was steadily arranged and that I would never be struck by the unexpected.
As my curiosity regarding the second way grew, I decided that was the one I would follow. Although it did not look as bright as the other and I could not even see through it for it was dark and its flooring was all bumpy, I figured it was challenging. I lit up a candle and moved forward. It was quite a long journey and throughout it I had to build up constructions and as they fell I had to do it again; I also had to make my signs so it would attract those I cared about.
Yet I knew it would take a long time for my path to be as remarkable as the one I was invited in, it still looked much better, for it had much more of me, for it was my own.

domingo, 2 de agosto de 2009

Goodbye

As I watch you go
I try not to despair
After all the deceiving, I will be unforgiving
I feel the distress and I struggle to despise it
Because you have been untrue for too long
You have worn such a believable disguise
That I have lived the same lie
I want to ask for you to stay
Because I feel you are taking all that is left of me
I say however “Shut the door as you leave”
Yet I feel I have wasted too much time
I see this time there is life ahead of me.

R.I.P.

Enquanto a tua carne esfria, tua existência se extingue em meio a preces e lágrimas
Não há luz, não há chamas e te contentas com o colorido das flores
Assusta-te teu corpo, impassível, indiferente
Revives um passado agora embaçado, surges num futuro inexistente
Em sonhos que visitas ou pesadelos que assombras
Vês-te naqueles que ficaram e desespera-te o quanto mudaram
Tomaste um formato desgraçado, cobiça, ganância
És casa, és carro, és estranhamente concreto
Voltas pra escuridão do teu lugar, escuro, distante
Porque sofres por não poder chorar, sofres por não poder tirar aqueles que sempre te amaram
Do abismo da cegueira em que estão enterrados.

sábado, 1 de agosto de 2009

Wind Serpents

I never though Serpents could fly,
till you came into my life,
embracing me with your warm breath
and caressing me with your long wings.

Only many years after our first meeting,
I did realize the power of your poison,
the subtleness of your malicious genes,
the reason for the many years of delusion.

For I had been drinking from the most harmful
of the potions, the one that makes you silent,
that showers your dreams and turns you into a shadow.
You took my heart and soul and flew away as Wind Serpents do

Silence is, after all, the saddest word,
This is my tragic saga,
Unable to a word utter,
I can tell no one
about Wind Serpents.

© Maria Cristina Schleder de Borba

Reptilia

Vejo-me Crocodila, preguiçosa
Sinto-me quente, fria... reptilia

Agrada-me muitíssimo abrir enorme boca
deixando suaves ondas
esmeraldinos peixinhos abarcarem
por entre minhas poderosas
mandíbulas.

É bom sentir o calor do sol
quando se está
em teto de zinco frio.


© Maria Cristina Schleder de Borba