quinta-feira, 30 de julho de 2009

Beleza (não) põe mesa

- Beleza não põe mesa – disse a sua mãe no dia em que ela achou que tinha levado um fora por estar um pouco gordinha.
Ela acreditou, afinal tinha apenas quinze anos, a vida ainda não tinha mostrado a ela a sua verdadeira face. Passou-se o tempo, ela levou outros foras, foi nas lojas e não encontrou as roupas da moda no seu tamanho, fez a dieta do abacaxi e a da sopa pronta e nada. Estudou muito, trabalhou mais ainda porque achava que o intelecto poderia compensar os óculos de lentes grossas e o cabelo ruim.
Certo dia, entre um diploma e outro, entre uma visita sites de namoro e outra, chorou. Viu aquelas mulheres na televisão e chorou. Aquelas mulheres kit completo a irritavam, a faziam perceber a injustiça do mundo. Apresentadora-atriz-cantora-dançarina numa só pessoa. Mulheres que trabalham mais o corpo que a mente, que ganham dinheiro se fazendo de burras. Silicones gigantes, câmeras dando closes em bundas, sorrisos artificialmente brancos. E tudo isso aplaudido e elas ficando ricas e ricas cumprindo o seu papel de mulher-objeto.
- Minha mãe estava errada – ela pensou, depois dessa reflexão, a qual não mudaria nada, apenas reforçaria a sua inconformidade com a distorção de valores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário