quarta-feira, 22 de julho de 2009

Who's gonna save me from myself?

Acordei pingando suor e em um sobressalto. Droga! A janela tinha aberto sozinha mais uma vez. Procurei os chinelos ao lado da cama, mas não apenas não os encontrei, como também não consegui alcançar o chão. Puxei rapidamente as pernas para debaixo das cobertas e percebi que a janela não estava aberta, mas por alguma parte do quarto entrava um vento muito frio.
Resolvi procurar a garrafa de água que sempre mantenho no criado-mudo porque apesar do vento eu sentia um calor estranho, o qual me fazia suar incessantemente, mas que deixava os meus pés e mãos gelados e um tanto endurecidos. Não pude encontrar nem a mesinha nem a água e então me dei conta que estava ilhada em cima da cama. Só podia ser um sonho. Engraçado era que eu nunca lembrava dos meus sonhos e agora eu estava como que acordada no próprio sonho. Resolvi colocar a cabeça de volta no travesseiro e tentar dormir novamente. Mas como se eu já estava adormecida? Arrisquei então procurar o chão, ele tinha que estar lá em algum lugar.
Não estava, mas de alguma forma eu cheguei até uma cômoda e peguei um cigarro. Fumando encostada na parede, passei a ouvir passos no corredor de casa. Passos estranhos, como se uma multidão estivesse andando dentro da minha casa. Seria o som dos passos na rua? Mas naquela hora o movimento não podia ser tão grande. Afinal, que horas seriam? Busquei na escuridão do quarto o relógio e iluminando-o com o isqueiro vi que ele tinha parado às 2h da manhã. Sei lá que horas eram, perco a noção do tempo durante a madrugada. Segui ouvindo os passos e eles se aproximavam e se afastavam, se aproximavam e se afastavam.
Tentei voltar pra cama, mas não pude caminhar. Meus pés estavam presos no chão. Não, não era isso. Eu nem podia sentir os meus pés. Se aquilo era um pesadelo, eu queria acordar. Ou estava ficando maluca? O Antônio sempre dizia que eu era maluca, que mexia nas coisas dele procurando indícios de traições imaginárias. Imaginárias. Que nada! Ele sempre me enganou. Aliás, todo mundo sempre me enganou, minha mãe, meu pai, todo mundo. Eles têm é inveja de mim, isso sim. Ri alto. Mas não ouvi a minha voz. Acho que o barulho dos passos era tão alto que não consegui me ouvir. Eles vão entrar no meu quarto. Pensei que alguém poderia então me ajudar. Que ridículo! Quem ia me salvar do meu próprio sonho? Minhas pernas não estão aqui, não posso senti-las. Meus braços, também não posso senti-los. Onde está meu corpo? Como foi que eu fumei aquele cigarro? Droga, aquela gente não para de andar, não consigo ouvir meus pensamentos.
Lembrei de quando era criança e queria ser dançarina. Me disseram que eu não ganharia muito dinheiro e então tive que abandonar a ideia. Tive que. Ri alto mais uma vez, só que dessa vez senti medo da minha risada. Não era a minha risada. As pessoas tinham parado de andar do lado de fora, agora eu podia sair e buscar um copo de água. Ai, mas eu não podia andar. Pensei em gritar, mas a voz não saía. Fechei os olhos e resolvi esperar. Ou eu ia acordar ou eu ia dormir. Os passos voltaram e telefones tocavam. Eu gritei o máximo que pude, eu corri, eu chorei e nada. Acho que ninguém ouviu. Eu moro sozinha! Quem são aquelas pessoas? A realidade é que eu estava completamente sozinha e na escuridão do meu quarto acordei pingando suor.

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