segunda-feira, 27 de julho de 2009

Humanos de Estimação.

O gato tinha um pelo longo impecavelmente branco e sedoso e era um tanto gordinho, o que, para ele, era uma importante vantagem em relação aos outros felinos. Naquele momento, ele lambia cuidadosamente uma pata e a esfregava na cabeça. Foi com grande desgosto que ele viu o cão da família se aproximar para interromper seu ritual de limpeza. O gato então levantou um olhar de desprezo e se deu o trabalho de dirigir a palavra ao cão:
- Cachorro, por que estás tão alegre? Os humanos não estão em volta, podes parar de fingir constante simpatia. Chega uma hora que cansa essa tua atitude de bobo feliz, abomino essa “babação” de ovo. Sempre abanando o rabo, pulando nos joelhos das pessoas, não tens um jeito menos irritante de conseguir o que queres?
O cachorro era grande e atrapalhado e tentava pegar uma bolinha que estava de baixo do sofá. Ele era jovem e vivia derrubando vasos de flores, porta-retratos e tudo mais que estivesse ou não ao seu alcance. Recém havia chegado do jardim da casa e estava – para maior desagrado do gato – com as patas sujas de terra. Ouvindo com atenção às palavras do gato, replicou, esbaforido:
- Gato, eu nem finjo nada, tá? Pior é tu que acha que é melhor que eles, que quer que eles te façam as vontades quando tu quer. Esse sim é um jeito irritante de conseguir o que se quer.
O cão se distraía com facilidade e parou de falar quando viu que conseguiu trazer a bolinha para junto de si com uma pata. O gato apenas tentou fingir que ele não estava lá para que continuasse em paz o seu tão prezado banho. Eles viviam em harmonia, por mais que tivessem seus atritos e tinham, inclusive, uma maneira de comunicar a chegada dos humanos e aquele era o momento. O gato miou baixinho e o cão rapidamente se deitou ao seu lado com a bolinha na boca. Os seus donos – os animais deixavam eles pensarem que eram seus donos – chegaram e os chamaram:
- Cadê o gatinho fofo da mamãe?? Cadê?? – disse a mulher, com uma fatia de peito de peru na mão.
- Onde é que tá o meu cachorro preferido?? – disse o homem, com um osso na mão.
O cachorro e o gato se olharam e prontamente se levantaram. Eles não entendiam porque os humanos afinavam a voz daquela maneira, mas já estavam acostumados. O gato passou pelas pernas da mulher, ronronando e se esfregando em suas canelas, enquanto ela repetia que aquele era o gato mais querido do mundo. O cachorro pulou nas pernas do homem, abanando a cauda, e esperou que ele se abaixasse para que pudesse lamber o seu rosto. Receberam, então, as suas respectivas delícias.
Quando as pessoas saíram , o cachorro roía o osso com vontade e o gato saboreava delicadamente a fatia de peito de peru. Ambos estavam satisfeitos e devidamente recompensados, tal qual os humanos que deixavam a sala.

Nenhum comentário:

Postar um comentário