sexta-feira, 17 de julho de 2009

Pai, de onde vêm os bebês?

Pedrinho estava naquela idade em que as crianças perguntam o porquê de tudo. Elas passam a questionar o mundo mais do que muitos adultos e com Pedro não seria diferente. Era um dia como um outro qualquer e ele chegava da escola no final da tarde. Como de costume, entrou em casa esbaforido e atirou seu material escolar em cima do sofá da sala. Seu pai estava sentado em sua majestosa poltrona, com os pés esticados em cima da mesa de centro e com os óculos na ponta do nariz enquanto passava os olhos pelas manchetes de um jornal sem prestar muita atenção – de fato, o pai já estava mais para a idade da aceitação.
O pai levantou os olhos ao perceber que seu filho ia começar com as perguntas. Ele costumava chegar da escola cheio de questionamentos, os quais ele não tinha coragem de debater com a professora, ou por medo de ser repreendido ou porque simplesmente se dava conta de que ela não era a pessoa mais indicada para solucioná-los. O pai então se preparou para o bombardeio:
- Pai, como é que nascem os bebês?
Sim, o pai sabia que mais cedo ou mais tarde aquela pergunta seria feita. Ainda mais que era consciente de que seu filho desfrutava de uma esperteza incompatível com a idade.
- Olha, Pedro, tem uma ave chamada cegonha. Ela traz os bebês num cesto para os casais que expressam o desejo de terem um filho.
O menino não pareceu convencido. Seu pai notou e pensou que a merda da internet estava fazendo isso, desafiando a autoridade dos pais. Foi com um olhar perspicaz que Pedrinho fez então a seguinte pergunta:
- Mas pai, e se como outros animais, as cegonhas entrarem em extinção?
O pai hesitou, a verdade era que não esperava um questionamento dessa dimensão e depois de alguns segundos, respondeu:
- Bom, aí a natureza vai apelar para o recurso do repolho, guri. As crianças também podem vir dos repolhos.
Pedro parou uns instantes para pensar e não teve dúvidas, lançou para o pai mais um desafio:
- Mas e aí se os repolhos forem contaminados pelos agrotóxicos, pai? Ouvi falar que eles fazem mal pra gente, daí iam nascer crianças com problemas, pai?
Já era demais para o pai. Nunca em toda a sua vida pensaria que seria inquirido dessa maneira pelo seu filho de oito anos. Ele não sabia mais o que dizer, as explicações de antigamente não serviam mais para essas crianças de hoje em dia, ele pensou. Tudo o que ele tinha aprendido com os pais sobre como criar seus filhos ia se perder para sempre, disso ele tinha certeza. E sentindo sua autoridade desafiada e vendo que era incapaz de dar uma resposta eficaz, apelou para o de sempre:
- Olha a hora, guri. Para de me perguntar bobagens e vai pro banho. Se a tua mãe te vê desse jeito aí todo suado, ela vai te encher de palmadas.
Um pouco decepcionado, mas sabendo que a mãe poderia dar umas palmadas se o visse assim sem banho depois de um dia inteiro no colégio, ele seguiu as ordens do pai, ainda se perguntando quando é que o pai lhe diria a verdade – afinal, ele já tinha oito anos. O pai, por sua vez, pensou que talvez nem tudo estivesse perdido e enquanto os filhos obedecessem aos pais, tudo estaria sob controle.

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