domingo, 16 de agosto de 2009

Enjaulado

Quando me dei conta, estava diante de uma estranha paisagem artificial. Animais gigantes com garras tão grandes quanto haviam me tirado de casa de uma maneira tão rápida e violenta, que eu não tive tempo de pensar em nada. Eles me largaram naquela jaula que tentava imitar a minha casa e o que mais incomodava era ver os outros agindo como se tudo aquilo fosse muito natural. Alguns deles me disseram nunca ter visto outro lugar, outros pareciam desacreditados quanto à ideia de um dia poder sair dali. Em certo momento, resolvi olhar à minha volta e vi que aquele monstros que tinham me seqüestrado agora andavam ao meu redor e faziam barulhos estranhos, como quem tenta travar uma comunicação.
A raiva tomou conta de mim e tentei ir em direção àqueles que tinham tolhido brutalmente a minha liberdade. Não consegui. Algo que eu não podia ver me impedia de ir em frente e vi que realmente estava enjaulado. Jaula da pior espécie, pensei, visto que ela quer dar a impressão de uma liberdade fictícia. Enquanto os outros iam de um lado para o outro de uma forma mecânica, eu me desesperava junto às grades invisíveis. Não conseguia entender como eles poderiam estar tão conformados, tão automatizados por aquele ambiente artificial. Pensava que talvez pudesse haver uma maneira de sair dali, de voltar para casa, porém percebi que era impossível: era como se na verdade eu estivesse dentro de uma caixa transparente.
De repente, percebi que meus vizinhos estavam alvoroçados e então, uma chuva colorida começou. Eles saíram de seus falsos esconderijos ou pararam com o seu desfile vicioso para alcançar a chuva. Resolvi então averiguar o que estava acontecendo e foi então que tive plena consciência de onde estava me metendo. Ou melhor, de onde haviam me metido. Aquilo não era chuva, era comida. Aquilo a minha volta não eram grades e sim vidro. Foi aí que percebi que estava tudo perdido: teria que me alimentar daquela chuva colorida e teria que nadar para sempre em círculos.

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