domingo, 30 de agosto de 2009

Funeral

Eu estava ali imóvel sentindo-me completamente impotente. Ela andava pelo quarto vestindo uns jeans que revelavam seus quadris estreitos e suas pernas finas e, naquele momento, estava parada na frente do espelho escondendo a sua pele intocada com blush e batom. Desfilava com um par de sandálias cujos saltos disfarçavam a sua baixa estatura e as longas unhas pintadas de vermelho seguravam uma caneta que imitava um cigarro. Eu queria chorar, gritar, a fazer acordar desse pesadelo que se revestia em sonho, porém eu era incapaz. Ela impiedosamente me sepultou no fundo de um armário e eu sofria. Sofria não pela minha curta existência, mas porque sabia que a infância que ela precocemente enterrava não poderia nunca mais voltar à vida.

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